“Eu fecho os olhos e conto mentalmente até três.
Sussurro pra mim mesma que vai passar. Uma hora passa, sempre passa, tem
que passar. O problema é que o tempo de duração cresce a cada vez que
isso resolve acontecer. Aperto a minha mão contra o peito e tento fazer
parar. É em vão. A dor é por dentro, o que torna tudo mais complicado.
Não há remédio com 100% de eficácia pra casos assim. A emergência do
hospital não me socorreria. Os bombeiros, os policiais, os médicos de
plantão, os psicólogos e os analistas também não. Ninguém tem total
poder sobre isso. Eu quero, tento, luto e persisto pra fazer com que a
dor suma. Mas ela aumenta. Se alastra pelo resto do corpo, da mente, dos
órgãos. A dor não possui amigos e, talvez, por isso, ela não perdoe
ninguém. Eu cruzo os dedos e torço pra que a tortura acabe de uma vez
por todas. Saudade, medo, incompreensão: por favor, vão embora. Por
obséquio, não decorem o caminho de volta. Tirem o meu nome da lista que
vocês criaram pra atormentar. Já chega, é demais pra mim. Tudo bem,
talvez isso seja um teste da vida mostrando o quanto eu posso e consigo
ser forte. Mas eu cansei de andar carregando o mundo nas costas sem ter
como curvá-la. O cheiro de menina frágil que precisa de colo ainda marca
a minha pele. A minha alma continua sendo levada como uma criança
teimosa. Eu não tenho estrutura pra sofrer.”
—
Capitule
Nenhum comentário:
Postar um comentário