“Você me pediu perdão como se pudéssemos remover com uma borracha nosso
pequeno e trágico passado. Mas eu te perdoei porque não consigo gastar
um átimo de segundo da minha existência guardando qualquer sentimento
por você. E para te perdoar, precisei perdoar também a mim mesma pela
armadilha que criei quando eu estava triste e desorientada demais para
achar que você pudesse me dar qualquer tipo de direção e desabei nos
seus braços e me deixei levar pelas suas mentiras caudalosas. E você,
com sua personalidade nociva e perversa, e por viver tão afundando na
ignorância de ser quem é ainda pensou que ser perdoado era um passaporte
para qualquer tipo de aproximação. Não. Agora eu tenho sanidade para
fazer escolhas certas e não estou mais frágil como antes. O que você me
causou e as consequências graves que tive que administrar sozinha, por
causa da sua covardia, me fortaleceram de tal forma, que o meu horizonte
interno se ampliou no peito e nos olhos e o meu tamanho teve que ser
aumentando para comportar tantos aprendizados. Por isso, a pessoa que
consegue te perdoar hoje, não é a mesma que você feriu com toda
crueldade que eu não sabia ser possível num ser humano considerado
socialmente normal. O mal que você tem feito a si mesmo, não é mais
problema meu e a minha presença seria um presente dado a alguém que não
tem a menor condição de receber o que é bom. Eu poderia ter ajudado você
a se lapidar com a minha predisposição para o amor. Mas você,
acostumado a viver na escuridão, não soube suportar a minha luz.
Espero que encontre alguma paz se algum dia conseguir e quiser viver dentro da honestidade.”
Foice, o tempo - Marla de Queiroz
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